Epifanía da Fala
De tanto me calarem calei
Fiz um silêncio profundo
Nem minha alma me ouvia
Era um abismo profundo
Tamanho o silêncio que fazia
Encontrei o abismo profundo
A escuridão absoluta do abismo
Não era no espaço,
além das estrelas,
Era o abismo do lado de dentro.
Não havia dor nem prazer
Alegria nem tristeza
Beleza nem feiúra
Medo nem segurança
Era o silêncio que gritava
Rompendo os tímpanos
Não era depressão
Muito menos euforia
Silêncio, Silêncio,
Silêncio, Silêncio .
O vento não movia as águas desordenadas.
Tudo parado ante a escuridão do silêncio.
Nada se movia, nada brilhava, nada era.
Mas lá dentro nesta imensidão silencioso
A voz divina rompeu
Sem mexer em nada
as águas não moveram
Nenhum vento as empurraram
Era um sagrado profundo
Pavoroso, tremendo, numinoso
E a voz silenciosa eloquente
Falou e a única coisa que vi
Naquela escuridão profunda
Haja luz!
E pouco a pouco a orquestra
Do nada, ex nihilo, surgiu
Aos poucos tudo tomou forma
Um todo me envolvia
Só então ouvi um choro de bebê
Uma mãe alegrando-se na dor
E o que mais eles queriam
Era ouvir minha dor de alegria
Respirei, senti um sopro divino
Queimava meus pulmões
Era o sexto dia da criação
Apena chorei
Uma constelação de pessoas
Agora ninguém queria me calar
Apenas ouvir o meu choro
Me consolar
Me amar
Ensinar eu a falar
Natalino Rogelio
Friburgo, 20 de agosto de 2022
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