Robocop e a Gentrificação
A ação de despejo da favela do Pinheirinho é semelhante ao filme Robocop II, sucesso do cinema dos anos noventa. No filme, Robocop era um policial que após ser baleado foi mantido em estado vegetativo para o desenvolvimento de um experimento científico. Tanto no primeiro filme quanto no segundo, a maior dificuldade do Robocop era seguir as diretivas de sua programação, pois, apesar de ser uma semi-máquina programada, não conseguiu se livra de seus valores éticos e humanos, o que ocasionava conflitos entre a sua parte máquina e a sua parte humana. Infelizmente no mundo real não há pessoas que demonstrem a humanidade deste homem-máquina e defenda os inocentes.
Ainda no filme (e esta é uma denuncia interessante) a força policial havia sido terceirizada pelo Estado, e ao invés de atender a todos cidadãos, àquela força policial atendia aos poderosos que criminalizaram os moradores de um bairro pobre, simplesmente pelos negócios financeiros de um pequeno grupo, eles eram humanos que não se importavam com os outros seres. Entretanto os valores que o Robocop possuía superavam aos dos “policiais contratados”, os levando a se oporem diante da injustiça e, por conseguinte, a combater os vilões.
Na vida real não existe Robocop para defender o povo contra a gentrificação. Os juízes, oficiais de justiças e policiais, por força da lei, são obrigados a cumprir ordens que atendem ao estilo de desigualdade.
Mesmo assim, em 03 de maio de 2003,o seu Hamilton dos Santos, pai de nove filhos, diante de ordem judicial recusou-se a demolir com um trator a casa de uma mãe de sete filhos, esse tratorista chegou a ser preso por não cumprir a referida ordem, porém pode regressar para casa e olhar nos olhos de cada um de seus filhos com a consciência limpa, um Robocop brasileiro.
O exemplo do Pinheirinho demonstra o grau de democracia a qual vivemos: a gentrificação. A revitalização dos centros urbanos promete entretenimento, baladas, etc., todavia, esta não inclui os sem tetos, sem terras, entre outros, na diversão. Antes os lançam nas ruas, à sua própria sorte.
O problema da falta de moradia nos grandes centros urbanos não é resolvido de forma a contemplar àqueles que mais necessitam, mas para atenderem a interesses de pequenos grupos que monopolizam o comércio, o transporte e a política, transformando o que deveria ser público em privado, criminalizando a necessidade básica de moradia de grande parte da população.
Enquanto as pessoas forem vulneráveis em relação à moradia, a sua atuação nas reivindicações por melhora no atendimento de suas necessidades básicas será deficitária e desigual, infelizmente, tanto Robocop como o seu Hamilton são personagens que são remetidos ao mundo imaginário dos heróis e por mais que denunciem e repudiem as injustiças, suas vozes parecem ser abafadas pela ganância de uma felicidade fantasiosa, na qual a desigualdade é o fator motivador.
É a hora de se refletir sobre como poderia o homem se livrar deste egocentrismo coletivo, que transforma o som da chuva em cantina de ninar no telhado da casa do abastado, sem o mesmo dar conta de que essa mesma chuva é uma calamidade na vida de quem não tem um teto para morar.
Natalino Rogelio Oliveira Soares
Gentrificação: Chama-se gentrificação (um neologismo que ainda não consta nos dicionários de português) ou enobrecimento urbano, de acordo com algumas traduções, a um conjunto de processos de transformação do espaço urbano que ocorre, com ou sem intervenção governamental, nas mais variadas cidades do mundo. O enobrecimento urbano, ou gentrification, diz respeito à uma intervenção em espaços urbanos (com ou sem auxílio governamental), que provocam sua melhoria e consequente valorização imobiliária, com retirada de moradores tradicionais, que geralmente pertencem a classes sociais menos favorecidas, dos espaços urbanos.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Gentrifica%C3%A7%C3%A3o
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