Acidentes

Segunda-feira, 20 de julho de 2009

Acidente

Eram 7h e 35min, ponto de ônibus do corredor rebouças com a Brigadeiro Faria Lima, sentido bairro. Estrondo, gritos, correria. Uma Kombi desgovernada lança ao ar três mulheres no canteiro de obras ao lado.
Pessoas gritavam, vítimas no chão, veículo atolado com o motor ligado.
Interrompi os pensamentos. Estava pensando na brevidade da vida, pensava na minha filha que completara nove anos no dia 19. A qualquer minuto a vida acaba tenho de viver mais perto dela, desfrutar essa dádiva...
O som do desastre ativou meus extintos, corri pela vida das acidentadas. Seguro na mão de uma, sinto sua dor e ela se agarra com força, agarrava-se a vida no meio do desespero. Chega mais pessoas para ajudar, o motorista do veículo está com as causas molhadas, o desespero lhe enche o coração, o carro velho é seu ganha pão, distribuir cebolas era o que traria alegria para sua família, mas o freio acabou e o que restava era as vidas deitadas na agonia da espera de socorro. Aproximei-me de outra, ela se chama Elaine, mesmo nome de minha esposa, não sentia as pernas, minha pasta serviu de apoio para sua cabeça, conversei. Ela clamava por Jesus. "Eu sou pastor, fique calma, Deus lhe gardou a vida, logo o resgate vem te buscar". Ela começa sentir suas pernas, a esquerda esta doendo muito, sentiu frio, cobri-lhe com casaco. Sua peocupação era o seu trabalho, um dos que acompanhavam atravessou a Brigadeiro para avisar. O resgate chegou, as colegas de trabalho da Elaine também, aos poucos me afastei, fui trabalhar.
O que é a vida?
Um vapor?
O acaso, as incertezas, a brevidade da vida...
O que podemos fazer?
Voltei aos meus pensamentos. "Amai-vos", disse Jesus. Lembrei as palavras do Mestre.
A vida é muito incerta para vivermos brigando, disputando, odiando, matando e sendo morto.
Quero amar a vida, aquela do aperto de mão na ora da dor.
Quero amar a vida, aquela do pai que madruga no carro velho pra sustentar os filhos.
Quero amar a vida, aquela da desconhecida do nome perto de mim.
Quero amar a vida, aquela que perdendo-a será salva.
Pois, quando abro mão do ódio que tenta inrromper dentro de mim, acabo por salvá-la. Mesmo que para normalidade isto seja uma perda.

Comentários

  1. Olá marinheiro !
    Fica registrado meu acesso no seu blog ...que diga de passagem eu não sei muito bem para o que serve ... mas de qualquer forma vc poderia "publicar" alguns trechos da sua monografia , ok !

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