Rio Doce

Rio Doce

O Rio Doce faz parte da minha história
Suas lendas e contos minha mãe ditava
Lembranças da infância e de suas estórias
Recordações de uma terra que amava
Refugiada em Santos contou-me suas lendas
O temido afogador do rio - O Cabloquinho D’água
A desobediência infantil transformada numa égua
- Quem Bate no pai e na mãe vira “Mula sem cabeça”
Mas nada me assustava mais do que o diabo
Enraizado nas modernas máquinas das usinas
Que do  gusa derretido fazia seu banho  macabro
Balançando as pontes com suas mobílias
Assustava  em Timóteo moradores e meninas
Mas o Cão não só aparecia dentro da aciaria
Perseguia crianças após os filmes de cinemas
Transformava a diversão de muitas fantasias
Na maldição do dito progresso, hipocrisias!
Por isso os matutos em bailes cantavam no acordeão
“Senhora dona de casa,
fecha porta e apaga a luz.
O demônio tá em casa,
vamos rezar o credo em cruz”

(Lá em Ipaba, na colina às margens do Rio Doce
Está plantado o meu avô Sabino, lá no alto
Assim ele pediu depois de vagar 94 de idade
A terra o sustentou, o rio o irrigou e no alto ele ficou
Linda vista, pensei eu, meu avô da terra, voltou para ela
Dizia em sua sabedoria: “A terra me alimentou”
Nela sustentei minha vida, a família e outros
Nela termina minha sina, as margens do rio da esquina...)

Não se tem mais espantos com o Cabloquinhos d’água
Que afogam as lavadeiras nas beiras dos rios
Não há mais espanto noturno das mulas sem cabeças
O problema é o Diabo, não o de chifre e avermelhado,
Mas os gananciosos Diabos que ajuntam fortunas
Que assolam ao meio- dia e seus rejeitos de ferro
Afogam miseráveis, iludindo-os como falsos deuses
Roubam almas e se banham com sague de inocentes
Na ilusão de que as riquezas lhe darão poder acima dos céus
Na ilusão de que podem se apoderar do homem e sua vida.
Receberam de prêmio apenas o pó de suas maldades.
A eles resta a cabocla canção:
“Senhora dona de casa,
fecha porta e apaga a luz.
O demônio tá em casa,

vamos rezar o credo em cruz”

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