Malhar o Judas e a falta de amor

Se há uma tradição brasileira que não compreendo bem é da malhação do Judas, antigamente era no sábado de aleluia, atualmente é todos os dias. Quando pequeno éramos incentivados a arrastar um boneco de pano pelas ruas e a deferir golpes sobre aquele símbolo da perversidade, nada mais lógico, Judas foi o traidor de Jesus.
Hoje em dia encontramos um Judas pós-moderno, culpado de todas nossas traições, individualista, privativo, líquido. Ele sempre está fora de nós, não é cidadão de bem que sonega os impostos que não paga, não é o cidadão de bem meritório que recorrer aos apadrinhamentos e conchavos para se promover, não é o cidadão de bem que não paga universidade pública e contra ao assistencialismo. Como se disse, o Judas está fora de nós, tal como dizia o fariseu que dava o dízimo, orava, jejuava e repetia que não era como o publicano pecador.
O Judas pós-moderno não é meu igual, é inumano, digno de morte, merecedor da condenação e das sentenças dos homens de bem.
E é nesse Judas que fazemos nossa catarse coletiva, damos pulinhos de alegria com suas repetidas mortes, afinal somos merecedores cidadãos de bem. Não somos como esse publicano pecador...
Há quem defenda que esses Judas sejam a manifestação da "mão de Deus"! Pois, temos de justificar o endurecer das leis e aprimorar os métodos das malhações foras de épocas.
Mas isso é apenas a armadilha, talvez a verdadeira expressão da idolatria humana. Tentar arrancar as próprias culpas com a repetição inócua de lavar a alma em sangue que não purifica, pois este está profanado pela falta de amor entre os diferentes que na essência são iguais pecadores.
Só há um Cordeiro que tira o pecado do mundo! O único que chama ao que lhe traía de amigo! O único que expressou que a vontade de seu Pai era a sua entrega a todos por amor!
Ainda bem que há sete mil em sete milhões que não se dobram a falta de amor... 

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