Messianismo Maya do Período Colonial
Messianismo Maya
Livro: O Messianismo Maya no Período
Colonial
Autor: Antonio Porro
Editora: FFLCH-USP (Coleção
Antropológica, 17)
Edição: 3ª Edição –1991.
Referencial Teórico
O estudo do messianismo nos seus primórdios foi
objeto do pensamento teológico. Na segunda metade do século XIX, com a formação
do corpus teórico das ciências
sociais e da observação etnográfica, o messianismo tornou-se objeto de estudo
das ciências humanas.
Estudos
demonstram que movimentos milenaristas não são exclusivos do mundo ocidental,
pois há indícios destes em civilizações não envolvidas com as referenciais
ocidentais. Tais movimentos foram identificados como nativistas, messiânicos,
milenaristas, proféticos ou revivalistas.
Apesar
de não ser uma definição final o autor se referencia em Talmon, este identifica o milenarismo como “movimentos religiosos que esperam salvação
iminente, total, final, terrena e coletiva[1]”.
Empregando o termo “messiânico-milenarista
para designar atitudes e movimentos nativistas de expressão religiosa que
incluem a expectativa de uma nova ordem social[2]”.
O
trabalho apresentado neste livro é de natureza exploratória que decorre da
dispersão espacial e temporal dos eventos relacionados aos aspectos do
milenarismo, por isso o autor apresenta duas hipóteses: a presença de uma
tradição messiânico-milenarista devida à relativa freqüência de episódios
semelhantes e que parecem emergir de um estado de milenarismo latente. As
características messiânicas dos Maya não estão limitadas em revivalismo e
aculturação, estando presente uma busca por uma identidade étnica, sendo isto
relevante na compreensão do “estilo” da resposta dada pelos Maya ‘as situações
de crise social inerentes ao estado de minoria étnica.
Metodologia:
Objeto de pesquisa:
O
objeto a ser pesquisado foi delimitado pelo autor de maneira geográfica e
temporal. A região Maya na Meso-América e o período de contato com o
colonizador europeu. Pesquisando sociedades extra-européias cujo contato com
civilização ocidental resultou em situações coloniais, isto é, marcadas pela
assimetria nas relações econômicas e sociais dos grupos étnicos envolvidos.
Método de apresentação das
hipóteses:
O
autor apresenta um roteiro para avaliar dezesseis movimentos na área Maya, do
século XVI ao XVIII, que apresenta o seguinte formato:
·
Análise
preliminar do episódio documentado (traços comuns, diferenças, natureza do
milênio, o messianismo e o grau de influência européia).
·
Validade
do conceito de tradição messiânico-milenarista.
·
Interpretação
do milenarismo Maya (identidade étnica)
Vantagens do Método:
Por
faltar um estudo sistemático sobre o assunto este trabalho poderá ser utilizado
por outros pesquisadores do assunto. O caráter exploratório do trabalho é
adequado para por em relevo o conceito da tradição messiânico-milenarista
(primeira hipótese). A identificação dos pontos dos movimentos Mayas próprio do
milenarismo, indagando o seu significado social (segunda hipótese).
Resumo da conclusão
do autor:
Os principais pontos da conclusão do
autor são:
·
O
contexto cultural fornece recursos simbólicos e epistemológicos que se prestam
a ser aproveitados e desenvolvidos pelo futuro messias.
·
O
milenarismo Maya nos dá exemplos de entidades não humanas (pedras, cruzes, imagens
de santos) de messias. (página 217)
·
Ausência
do tema “retorno do messias” é predominante no milenarismo Maya. (página 218).
·
Duas
características Mayas: 1) Registro historiográficos, 2) crença relativas a certa
“tipologia social” dos períodos dos calendários. O autor argumenta que talvez a
segunda característica faça o papel do “ herói”,
ou seja, o “Katun” é que determina a renovação do novo ciclo e não em especial
o herói. A figura de Quetzacóat-Kukulcán (Serpente emplumada) também não ocupou
lugar na mitologia Maya no que se refere ao seu retorno (retorno do messias).
O autor apresenta também os
aspectos da influência européia no milenarismo Maya, que se deu via Religião
Católica através das ordens Dominicana (teológica jurídica) e Franciscana
(Mística e exegética). Os principais traços da cultura católica na mitologia
Maya foram:
·
Nascimento
Virginal de Deus.
·
Simbolismo
da cruz.
·
Chegada
dos brancos.
O nascimento virginal de Deus era
uns dos temas da vida Maya, entretanto a ênfase não está no Deus gerado e sim
na progenitora, símbolo da fertilidade. Os santos também ocupavam lugar de
destaques.
A Cruz foi associada à árvore
cósmica “Céiba”, cujos galhos apontam para os pontos cardeais. Apropriada pelos
indígenas não como símbolo da divindade, mas a uma das divindades de seu
panteão sagrado.
Os Brancos (Barbudos) tão mais
para a apropriação de Quetzalcóatl pelos espanhóis, pois o mesmo era índio.
Todorov diz que isto se deve ao fato do mundo cíclico dos índios que tornam o
passado semelhante ao presente.
A influência do cristianismo
sobre o milenarismo Maya não foi decorrente do seu caráter de religião
messiânica, mas do fato de ser a religião oficial de uma sociedade em expansão
e politicamente dominante e de ser um dos instrumentos de tal expansão e
domínio. (página 227)
O tipo de reação que se
estabelece entre uma sociedade dominante, incidentalmente cristã, e uma
sociedade dominada.
A institucionalização religiosa
parece ser o destino inevitável dos movimentos milenaristas politicamente
vitoriosos ou, por outra, que o milenarismo tende a negar a si próprio na
medida em que alcança a seus objetivos.
Crítica:
O livro possui um detalhamento de
grande valor, pois apresenta os principais movimentos de uma sociedade pouco
divulgada na história tradicional. O seu ponto de destaque é a visão
diferenciada da mitologia dos Mayas em relação à cultura ocidental. O autor
consegue demonstrar que, apesar de o dominante europeu impor uma nova ordem, a
construção mitológica do nativo se dá dentro de seu próprio domínio (dos mayas)
de conhecimento, ou seja, o nativo continua sendo um outro, apropriando-se de
símbolos do cristianismo e estruturando
o seu tempo de forma cíclica.
Este livro é fonte de
referência para pesquisas multidiscipulares, tanto para o antropólogo, como o teólogo. Aquele procura entender o modo como se constrói as inter-relações humanas
e suas culturas. Já para a teologia, demonstra-se que a dogmática cristã não é
absorvida conforme o entendimento de seu anunciador, principalmente se o dogma
é apresentado como instrumento de opressão.
[2]
Porro, 1991, p. 45
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